Você sabe o que é lugar de fala?

Se você ainda não sabe o que é lugar de fala, tudo bem, eu te explico. Afinal, eu não nasci sabendo, há alguns anos eu também não tinha esse conhecimento.

Lugar de fala funciona assim: se você não é negro; não tem cabelo crespo; e não tem traços de negro; você não tem como falar sobre racismo e preconceito contra negros, porque você não tem “lugar de fala”. Entendeu?

Você também não critica o Dia da Consciência Negra, nem ações sociais e medidas que auxiliem negros a conseguirem o que você considera serem coisas normais da vida para as quais:
“- Basta a pessoa se esforçar, ué”.
Porque “no seu lugar de fala” você não viveu as mesmas dificuldades. É coisa de pele. Literalmente. E se não é a sua pele, como você pode saber?

Resumindo, “lugar de fala” tem a ver com todas as minorias “abusadas”. É por isso que não cabe afirmar que:
“- Se as pessoas querem igualdade, é preciso tratar todo mundo igual”.
Acontece que “os brancos não foram uma minoria abusada”, entende?

Você pode dizer:
“- Meu bizavô/avô, chegou no Brasil imigrante, sem nada, lutou e cresceu”.
Claro! Que bom pra vocês. É herança que fala isso.

Imagine um negro/escravo que recebeu “liberdade”. Entre outras palavras, ele foi “expulso de casa sem nada”, apenas com a roupa do corpo. E só por ele ter a cor de pele que tinha, era impedido de lutar por qualquer coisa que ele precisasse pra sobrevivência dele, como trabalho e comida, por exemplo. Também é herança que fala.

Meu amigo, essa é uma luta histórica e estrutural. A questão não é que:
” – Ah, meu! Que mi-mi-mi. Mataram um cara lá nos Estados Unidos…”.
A questão é que isso traz luz a algo que acontece também aqui e o tempo todo, nas comunidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, por exemplo. A questão é que SE NÃO TOMARMOS CUIDADO, OS TEMPOS DESUMANOS DE PRECONCEITO E RACISMO, DE ESCRAVIDÃO, VOLTAM!

Mas então, o que fazer pra ajudar se você realmente se importa? Ouvir, aprender, perguntar, respeitar, se colocar à disposição para ajudar no que for necessário. Pontuar outros que talvez também tenham visões distorcidas sobre esse assunto.

Seria a mesma coisa caso você não é mulher e/ou nunca sofreu abuso por parte do seu parceiro, querer falar sobre a mulher nessa condição. Você “não sabe” dizer nada.

Você sabe o que é sentir atração por pessoas do mesmo sexo? Já sentiu? Se não, como pode dizer algo sobre homossexuais?

Você, homem, mulher, já sofreu abuso sexual? Como pode falar algo sobre essas pessoas?

Lugar de fala é algo que vale para tudo quanto é minoria que você possa imaginar. Basta ser humano e se colocar de fato no lugar do outro, não de forma superficial.

Me desculpe pela GRANDE quantidade de aspas! Foi apenas visando facilitar o entendimento de um assunto tão complexo.

Preconceito

Não faz muito mais de cem anos que a escravidão no Brasil teve fim. Então muitos de nossos bisavós e tataravós cresceram com o estigma de que nascer negro era uma má sorte da vida, visto que sofreriam muito. Enquanto que a má sorte pertence a todos nós, porque estamos nesse mundo que abrigou pessoas que foram capazes de tantas atrocidades, assim como ainda encobre outras maldades. Não sei exatamente o que pensam sobre esse assunto pessoas que acreditam na evolução, mas quem acredita na criação entende que quem criou os homens, criou os animais e somente esses estão em sujeição aos homens, do resto, somos todos iguais, todos imperfeitos, e nenhum humano é bom o suficiente para Deus a ponto de tirar a dignidade de outros.

Eu vejo que muitas pessoas ainda carregam algumas expressões de antigamente que são absurdas para meus ouvidos. Como por exemplo, falar que “cabelo crespo é cabelo ruim” ou falar que “tal mulher tem a barriga ruim, pois o filho puxou o pai moreno e não ela que é de pele mais clara”. Minha indignação ocorre porque penso que toda essa história de escravidão era apoiada por esses pensamentos tortos. Tenho medo quando ouço pessoas falarem assim porque imagino que apoiariam facilmente a ideia de que negros ou morenos são inferiores em relação aos de pele clara.

Cabe a nós, somente a nós, nos corrigir e corrigir aqueles que estão próximos de nós, fazendo-os entender que o erro esteve em querer classificar etnias de acordo com suas características como sendo boas ou ruins. Nomear, estudar, pesquisar, é necessário, faz parte do nosso desenvolvimento. Classificar, como superiores ou inferiores, não. Diferentes, todos nós somos, e sempre seremos partindo de qualquer ponto de vista alheio ao nosso.